segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tarefa cumprida


Deus nem sempre evita entrarmos em perigos, mas nos ajuda a sair deles, todos os que Nele confiam.
Onde morávamos, havia uma vaca nelore - nos dias de dar cria, um garoto tímido e muito franzino, um pai determinado, responsável e muito exigente. Naqueles dias meu pai teve que viajar. O gado estava preso '"na solta" e lá não havia água. Meu pai me deixou responsável para fazer o remanejo diário do gado, da solta para o rio e depois para o curral.
Nos primeiros dois dias foi tudo muito bem, nenhuma complicação, mas no terceiro dia aconteceu o que eu não queria que acontecesse naquele período – a vaca deu cria.
À tardinha saí para fazer o remanejo do gado e grande foi a surpresa. Quando subi na porteira e gritei, aquela vaca se ergueu e ficou nas pontas dos cascos; eu já sabia, havia dado cria.
Um amigo indesejado para aquela hora estava presente e podia atrapalhar o cumprimento do meu dever e eu poderia ser castigado depois, pois meu pai era homem rigoroso.
Prossegui chamando o gado que foi se enfileirando e vindo na minha direção. Imaginei que aquela vaca viria com os outros animais, iria beber, eu deixaria a porteira aberta, ela voltaria e eu viria e fecharia atrás dela a porteira.
Todo gado foi chegando à porteira, mas ela sempre com a cabeça o mais alta que podia. Ela vinha uns dez passos e voltava para o mesmo lugar. Todo o gado chegou, mas ela continuava lá, dançando erguida sobre os seus cascos.
A esta altura havia um emaranhado de coisas em minha mente: a confiança que meu pai sempre demonstrou ter em mim, a responsabilidade que me confiara, o medo da vaca e o medo de ser castigado pelo meu pai. O que fazer? Decidi encarar a vaca e se ela me machucasse, meu pai seria o culpado, mas eu teria sido responsável e provado ser o garoto corajoso que meu pai sempre quis que eu fosse.
Tomei um pedaço de pau e caminhei na direção dela e ela na minha, mas ela sempre vindo e voltando ao mesmo lugar e eu fui ficando cada vez mais perto dela até que finalmente estávamos perto um do outro.
Perto dela havia uma árvore, então, ela se deslocou para lá. Era onde estava deitado o seu filhote, chamou-o, ele se levantou e ficou perto dela, então ela virou para mim, sacudiu a cabeça e era como quem diz: eu estou aqui para defender meu filho, e se você vier vai se dar mal.
Pensei em recuar, mas a consciência do dever não me deixou, então resolvi prossegui. Diante de mim havia uma tora de madeira caída no capim, foi quando me pus em pé sobre ela, a vaca dançou e fez todos os gestos de ataque. Eu tinha muito medo, mas comecei a chamar e a dar ordens para que ela fosse para onde estava o restante do gado, ela, porém, não atendia. Olhava para o filhote entre as pernas, olhava para mim, e dava sinal de partida em minha direção. Decidi avançar, então, desci da peça de madeira e quando dei o primeiro passo ela partiu para me pegar.
Nós estávamos uns vinte a trinta metros de distância um do outro, e sabia que agora ela estava decidida, e que iria me bater mesmo. Procurei me firmar sobre as pernas para me defender, mas uma das pernas embaraçou no capim e eu caí por cima da tora de madeira com o dorso no chão, ficando com as pernas sobre a tora de madeira.
Eu parecia derrotado, mas foi aí que Deus agiu, por eu ser tão franzino e fraco para enfrentar uma vaca grande. O Senhor me pôs na posição mais segura para eu poder me defender, me proteger e atacar.
Quando ela chegou e baixou a cabeça para me pegar, as suas patas dianteiras ficaram antes da tora de madeira e assim ela não pode me pisar e eu estava pronto para agir. Ela baixou os chifres para me apanhar, e num impulso automático fiz três coisas ao mesmo tempo: encolhi as pernas sobre o ventre e saqueias com toda força que tinha contra a cabeça dela, ao mesmo tempo bati, com o pau que trazia, entre os dois chifres dela, e mais, dei um dos gritos mais feios do mundo; com isso, ela saltou de lado e voltou para o filhote que ficou entre suas pernas, e foram em direção ao restante do gado, mas sempre me ameaçando, até quando entrou no rebanho; ela ainda virava, mas sempre corria com o bezerro para o meio dos outros. Dei água para o gado e os levei para o curral.
No dia seguinte, meu pai chegou e então eu estava tranquilo, pois com ele eu não tinha medo de nada. A tarefa estava cumprida e meu pai orgulhoso de mim.
Deus nunca decepcionou alguém que, em obediência a Ele, faz o que os pais querem (Ef 6.1-3).
Até o próximo, se o Senhor for servido.

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